Licenciatura em Enfermagem Gaia
A Enfermagem é uma escolha com propósito e um futuro com impacto

Entrevista a Susana Regadas, coordenadora da licenciatura em Enfermagem no Campus Piaget de Gaia

Numa fase em que a escassez de profissionais de saúde se torna um desafio civilizacional, a enfermagem assume-se como um pilar da sustentabilidade dos sistemas de saúde, fazendo o enfermeiro o que nenhuma máquina pode replicar. Quem o afirma é a professora Susana Regadas, coordenadora da licenciatura em Enfermagem, lecionada na Escola Superior de Saúde Jean Piaget de Gaia.

Nesta entrevista, a docente dá a conhecer a sua visão sobre o papel dos enfermeiros, o futuro da profissão e os fatores diferenciadores da licenciatura, numa altura em que os temas ligados à saúde ganham um protagonismo especial.

Com os inúmeros desafios que se colocam atualmente na prestação de cuidados de saúde, há ou não uma maior procura de profissionais de enfermagem qualificados e uma relevância crescente da profissão de enfermeiro?

Atualmente, vivemos uma era de paradoxos. Por um lado, os avanços científicos e tecnológicos na saúde são extraordinários; por outro, os sistemas de saúde enfrentam uma crise silenciosa relacionada com a escassez de profissionais de saúde, designadamente de enfermagem. Em Portugal, existiam cerca de 83 mil enfermeiros registados em 2023, mas a média nacional era de apenas 7,3 enfermeiros por 1.000 habitantes, abaixo claramente da média dos países da OCDE.

A profissão de enfermagem encontra-se, assim, no epicentro de uma tempestade perfeita, com o envelhecimento populacional, o aumento da incidência e prevalência das doenças crónicas, a escassez de profissionais e a desvalorização contínua profissional e salarial.

Em 2024, a OCDE alertou para um défice de 1,2 milhões de profissionais de saúde na União Europeia, incluindo médicos e enfermeiros. Em Portugal, o número de licenciados em enfermagem por 100.000 habitantes caiu de 28,53, em 2012, para 25,99, em 2022, muito abaixo da média europeia de 37,54. A nível global, a Organização Mundial de Saúde também estima que exista um défice de mais de 6 milhões de enfermeiros até 2030, ou seja, daqui a 5 anos.

Em simultâneo, quase 25% da população portuguesa tem mais de 65 anos, uma das taxas mais elevadas de idosos da Europa. Este envelhecimento não é apenas demográfico; é também profissional, porque 1/4 dos enfermeiros portugueses têm mais de 55 anos, o que antecipa uma vaga de reformas nos próximos anos. Por isso, a escassez de enfermeiros não é apenas um problema logístico; é um desafio civilizacional. Trata-se de garantir que o cuidado humano, este gesto ancestral de proximidade e cuidar, não se torne um luxo raro no mundo tecnologicamente avançado, mas socialmente desumanizado.

A profissão deixou de ser, portanto, apenas uma vocação com sentido missionário, e é hoje uma escolha estratégica e com futuro. O mundo precisa de enfermeiros altamente qualificados, reflexivos, e que se saibam adaptar a contextos cada vez mais complexos de saúde, capazes de responder a desafios e emergências de saúde pública. A título de exemplo, ainda temos bem presente na nossa memória a pandemia da COVID 19 a nível global. A enfermagem deixou de ser, assim, apenas uma profissão de apoio, sendo hoje um pilar da sustentabilidade dos sistemas de saúde.

Para quem se prepara para entrar no Ensino Superior e pretende vir a ser um dia enfermeiro(a), quais as características e skills que um jovem deve ter?

Num tempo em que as novas tecnologias, designadamente a inteligência artificial, avançam a passos largos, o que distingue o enfermeiro é aquilo que nenhuma máquina pode replicar: a presença humana, a escuta ativa, o toque que conforta, o olhar que compreende. Isto é, um cuidar sustentado na melhor evidência disponível, mas recheado de humanismo.

O futuro enfermeiro deve ser um cientista do cuidado, capaz de interpretar dados clínicos com precisão e rigor, aplicar protocolos baseados em evidência científica robusta, avaliar criticamente a eficácia das suas intervenções, e implementar em tempo útil e de acordo com as reais necessidades das pessoas os cuidados que sejam significativos para as mesmas.

Segundo a OCDE, o crescimento anual dos licenciados em enfermagem na União Europeia foi de apenas 0,5% na última década, contrastando com os 3,5%, por exemplo, na medicina. Isto revela um desinteresse preocupante pela profissão, especialmente entre os jovens. É urgente, portanto, como costumo dizer, reencantar a enfermagem, mostrando que cuidar é um ato de inteligência, coragem e humanidade.

Ser enfermeiro é, antes de mais, um compromisso com a dignidade humana. É preciso mais do que conhecimento técnico. É necessário carácter, sensibilidade e coragem moral. O jovem que aspira a esta profissão deve cultivar empatia para compreender o sofrimento do outro sem se perder nele; rigor científico para tomar decisões baseadas em evidência; resiliência emocional para enfrentar a dor sem se tornar indiferente; capacidade de escuta porque muitas vezes o que cura não é o medicamento, mas a presença; e a humildade intelectual para aprender continuamente com os colegas, os doentes e a própria prática.

Como dizia Florence Nightingale, a enfermagem é uma arte e se vai ser feita como deve ser, requer uma devoção tão exclusiva e um preparo tão rigoroso quanto a obra de qualquer pintor ou escultor.

Sabemos que os enfermeiros são profissionais imprescindíveis em hospitais, centros de saúde ou clínicas. Mas, tal como noutras profissões ligadas à saúde, há um caminho de especialização que pode ser seguido. Quer explicar-nos em que áreas pode ser feita esta especialização para aqueles que decidem aprofundar os seus estudos?

A especialização em enfermagem é uma resposta, sobretudo à complexidade crescente dos contextos clínicos. Em Portugal, as sete áreas reconhecidas pela Ordem dos Enfermeiros não são apenas rótulos; são territórios de saber diferenciado e prática avançada. Por exemplo, temos área de enfermagem de saúde materna e obstétrica, a enfermagem de saúde infantil e pediátrica, a enfermagem de reabilitação, a enfermagem de saúde mental e psiquiátrica, a enfermagem comunitária e a enfermagem médico-cirúrgica.

Em breve, se calhar, teremos mais áreas diferenciadas. Mas, por exemplo, a enfermagem médico-cirúrgica já engloba áreas de especialização, seja ao doente crítico, ao doente crónico, ao doente paliativo, ao doente perioperatório, respondendo a diferentes situações de alta complexidade clínica. Já a enfermagem de saúde mental é cada vez mais crucial no mundo, onde os transtornos psíquicos afetam uma em cada quatro pessoas ao longo da vida. Também a enfermagem comunitária assume um papel estratégico na promoção da saúde e prevenção da doença, especialmente em populações vulneráveis. E poderia continuar…

Portanto, cada uma destas áreas representa um universo próprio de saberes, práticas e desafios. A especialização permite ao enfermeiro tornar-se um perito no cuidado, um agente de mudança e, muitas vezes, um líder clínico. É um ato de aprofundamento ético e técnico que permite ao enfermeiro tornar-se um agente de excelência e de inovação.

O Piaget é uma referência académica na formação de profissionais de enfermagem em Portugal, com uma oferta que se alarga, além do Campus de Gaia, a Viseu e ao Algarve. Quais são as características que mais valoriza no curso de Enfermagem lecionado na Escola Superior de Saúde Jean Piaget em Gaia?

Num contexto de escassez e de exigência, a formação de enfermeiros não pode ser meramente superficial. A Escola Superior de Saúde Jean Piaget de Gaia destaca-se por uma forte componente prática, com estágios em diferentes áreas de cuidados em diferentes instituições parceiras, quer públicas, quer privadas, englobando todas as conjunturas de saúde e promovendo uma aprendizagem progressiva e contextualizada. Temos um corpo docente altamente qualificado e vinculado, com experiência clínica e académica. Temos infraestruturas modernas, incluindo laboratórios de simulação clínica de última geração que permitem treinar competências em cenários realistas e seguros.

Por outro lado, existe a integração em projetos de investigação e inovação pedagógica, garantindo uma formação atualizada e crítica. Falo de projetos de investigação e extensão comunitária que ligam o saber académico às necessidades reais da população. Não menos importante, temos um acompanhamento muito próximo dos nossos estudantes, promovendo o sucesso académico e pessoal.

Tudo isto acontece num ambiente onde o rigor científico convive com a humanização dos cuidados, porque formar enfermeiros é formar pessoas que cuidam de pessoas. Não queremos formar apenas técnicos de saúde; estamos comprometidos e envolvidos na formação de pensadores do cuidado, profissionais capazes de intervir com competência e refletir com profundidade.

Qual o perfil de estudantes que ambiciona ter no próximo ano letivo e que competências é que os alunos irão desenvolver ao longo do curso?

Eu e todo o corpo docente ambicionamos receber estudantes curiosos, comprometidos e com vontade de fazer a diferença. O nosso estudante ideal é aquele que chega com sede de sentido, que não procura apenas um emprego, mas uma missão.

Ao longo do curso, pretendemos que os estudantes desenvolvam pensamento clínico e tomada de decisão baseada em evidência, competências relacionais e éticas fundamentais para o cuidado centrado na pessoa, capacidade de liderança e de trabalho em equipas interdisciplinares, autonomia profissional e responsabilidade social.

Estes estudantes tornam-se profissionais reflexivos, capazes de cuidar com ciência, mas também com alma. Queremos ajudar a que se tornem enfermeiros que além de cuidarem também inovem e liderem. O nosso foco é formar profissionais completos, altamente preparados para os desafios do presente e do futuro.

A licenciatura é lecionada num Campus onde os estudantes de Enfermagem irão interagir diariamente com colegas que estão a formar-se em áreas muito diferentes, inclusive fora do setor da saúde. Na sua opinião, isso é uma vantagem ou desvantagem?

Estudar num Campus onde coexistem diferentes áreas de saber é uma vantagem estratégica, diria mesmo um privilégio. A saúde não se faz em silos, faz-se em rede.

A convivência com estudantes de diferentes áreas disciplinares, designadamente da saúde, da educação, do desporto, e mesmo de diferentes ciclos de estudos e formação pós-graduada de diferentes interesses científicos, é claramente uma vantagem competitiva e uma oportunidade de ouro.

Num mundo cada vez mais interconectado e global, os desafios da saúde exigem respostas interdisciplinares. Com esta realidade, é possível desenvolver competências de comunicação interprofissional, estimular a criatividade e o pensamento sistémico, e promover uma visão holística da saúde e do bem-estar. É neste cruzamento de saberes que nascem as soluções mais inovadoras e os profissionais mais completos e mais bem preparados para o enfrentamento das maiores adversidades e contextos mais complexos e desafiadores. Os cenários académicos inclusivos e com diversidade não são obstáculos; são catalisadores de inovação, de proficiência e de empatia. Ou seja, são cenários académicos de sucesso.

Do seu ponto de vista, quais as vantagens de estudar em Gaia?

Sou suspeita porque sou uma pessoa nascida no norte, mas direi que estudar no Campus de Gaia é usufruir do melhor dos dois mundos: a tranquilidade de um ambiente académico extremamente acolhedor, com forte sentido de comunidade, e espaços circundantes e atividades vibrantes.

Vila Nova de Gaia é um lugar onde a tradição e a inovação se encontram e complementam. Estudar aqui é beneficiar de um ambiente académico acolhedor e seguro, de uma proximidade e acesso a oferta cultural e gastronómica rica, de paisagens inspiradoras que favorecem o equilíbrio entre o estudo e o bem-estar, estando pertíssimo do mar e do rio Douro. Este é um lugar onde se pode crescer, aprender e, acima de tudo, pertencer. Estudar em Gaia é literalmente uma experiência com vista para o futuro.

Para determinar, quem é a professora Susana Regadas?

Sou, em primeira linha, uma pessoa que gosta muitíssimo do que faz e tenta a cada instante, e como diria Fernando Pessoa, colocar tudo em cada coisa. Sou enfermeira desde 1997, com experiência em cuidados hospitalares e cuidados de saúde primários, docente, investigadora, coordenadora da licenciatura em Enfermagem e também cocoordenadora do mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica na área de especialização à Pessoa em Situação Crítica no Campus Piaget de Gaia.

Sou doutorada em Enfermagem na área de especialização de Enfermagem Avançada, tendo dedicado a minha carreira ao cuidado significativo de pessoas e à formação de novos profissionais. Desenvolvo atividades de disseminação de conhecimento e investigação, à semelhança dos enfermeiros na área da docência, e continuo a prestar cuidados de enfermagem em contextos da prática.

Mas, acima de tudo, gostaria de ser uma enfermeira e professora que acredita que ensinar a enfermagem é formar para a vida. Acredito, e estou comprometida, num ensino de enfermagem em que ensinar a cuidar com ciência, consciência e coração é o nosso fim último.

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