O contributo do Psicólogo Social e das Organizações para a sociedade
Entrevista com o professor António Rosinha, coordenador do mestrado em Psicologia Social e das Organizações, lecionado no Piaget de Almada
Neste 2º ciclo de estudos na área da Psicologia, os estudantes aprofundam os conhecimentos adquiridos na licenciatura, promovendo-se o desenvolvimento de competências cientificas, analíticas e práticas essenciais para uma atuação profissional na área social e organizacional.
Nesta entrevista, o professor António Rosinha explica-nos os desafios que esperam o futuro psicólogo social e das organizações, as competências desenvolvidas pelos estudantes ao longo do mestrado, as saídas profissionais possíveis e as vantagens de estudar no Piaget e num campus com um ambiente académico de excelência.
Começando por uma questão mais geral: qual a relevância da psicologia e qual o impacto da profissão de psicólogo na sociedade atual?
A psicologia, enquanto ciência, é fundamental na medida em que estuda o comportamento humano e todos os processos mentais associados quer à dimensão biológica, quer às dimensões cognitiva, emocional e social. É esta compreensão da pessoa genericamente considerada que nos permite prevenir perturbações da saúde mental e promover o desenvolvimento humano.
A psicologia social e organizacional é uma vertente mais específica da psicologia, em que os grandes desafios que se colocam centram-se na aceleração tecnológica, na diversidade cultural e nas novas formas de trabalho e de interação social. A sociedade enfrenta hoje enormes desafios, tanto para as pessoas como para as organizações, devido à grande pressão psicológica colocada em termos de necessidade de produção. Por isso, são exigidos novos modelos de liderança e surgem maiores exigências de adaptação contínua dos trabalhadores, sendo fundamental compreender os riscos psicossociais que afetam a saúde individual e o desempenho coletivo de uma organização.
Ou seja, no fundo, o psicólogo social e das organizações intervém para criar ambientes de trabalho mais saudáveis na promoção do bem-estar e da melhoria das relações interpessoais, bem como no apoio a processos de mudança organizacional. Podemos dizer que ele intervém a três níveis. Em primeiro lugar, a um nível mais individual, em que se procura compreender o indivíduo na forma como ele lida com o stress e com o desenvolvimento das suas competências. Em segundo lugar, ao nível das variáveis organizacionais, percebendo como é que o clima e a cultura organizacional têm um impacto nas pessoas, na dinâmica das equipas e nas práticas de recursos humanos. Por fim, ao nível das equipas, porque é aí que residem todos os processos de comunicação e de gestão de conflitos.
Em síntese, a psicologia social e organizacional intervém numa dupla dimensão na promoção da saúde mental e do bem-estar pessoal e organizacional.
O Piaget é uma referência na formação de psicólogos, seja pelas licenciaturas que leciona ao nível do 1º ciclo de estudos, seja pelos mestrados que tornam possível o acesso à Ordem dos Psicólogos e à profissão. O que é que esta experiência de bastantes anos acrescenta em termos de valor na formação dos nossos estudantes e, em particular, dos seus alunos de Psicologia Social e das Organizações?
Em primeiro lugar, destaco os seus valores; depois, todo o processo de inovação que o Piaget tem demonstrado. Quanto aos valores, pelo pensamento humanista e pedagógico de Jean Piaget, centrado no desenvolvimento integral da pessoa e na aprendizagem ao longo da vida. Relevo também a forma como democratizámos o acesso ao ensino superior e a resposta aos novos desafios da sociedade, sempre com base no compromisso ético e na responsabilidade social de nos ligarmos à comunidade. Saliento ainda a ligação, muito importante, entre o 1º ciclo e o 2º ciclo, em que os nossos alunos têm um processo de transição muito natural, uma vez que as unidades curriculares têm um desenvolvimento acrescido na fase do mestrado.
Na vertente da inovação, destaco o papel do centro de investigação Insight. O facto de ter sido classificado como “Muito Bom” pela FCT constitui um reconhecimento do que temos vindo a fazer nos vários projetos em curso. Ao nível da psicologia social e organizacional, realço o projeto de realidade estendida XR5, onde contamos com 26 parceiros europeus, o que evidencia a dimensão de alargamento à sociedade e de resposta aos desafios tecnológicos. Por exemplo, um dos seis casos pilotos envolve a TAP, onde procuramos estudar a relação homem-máquina e os processos de adaptação individual às novas tecnologias na resolução de problemas.
No fundo, estamos aqui perante uma mudança de paradigma, mas que assegura a continuidade do que são os pilares do ensino, da prática e da investigação. Falamos hoje de um posicionamento orientado para a resolução de problemas e com proximidade à comunidade. É desta forma que o Piaget, enquanto instituição de referência na formação de psicólogos, e em especial dos que seguem a via do mestrado em Psicologia Social e das Organizações, tem respondido a este crescente desafio não só intergeracional, mas também tecnológico.
Quais as competências que os estudantes irão desenvolver ao longo do seu mestrado?
Uma competência fundamental é a resolução de problemas aplicados. Esta competência é transversal, na medida em que queremos que as pessoas saiam com a capacidade de resolver problemas do dia a dia. Esta perspetiva reflete-se na forma como estruturamos as unidades curriculares (UC). Eis alguns exemplos: ao nível da UC de Comportamento Organizacional, uma das competências é a análise dos fatores motivacionais, perceber porque é que as pessoas têm desempenhos fracos ou de excelência. Por outro lado, na UC de Comunicação em Contextos Sociais e Organizacionais, procuramos desenvolver uma competência de comunicação interpessoal. Ou seja, como é que a pessoa é capaz de mediar um conflito e de negociar. Já na UC de Processos Grupais e Cognição Social, é importantíssimo os alunos desenvolverem processos de tomada de decisão em grupo e de liderança informal.
Outra competência importante é ao nível do diagnóstico e intervenção da mudança organizacional. Ou seja, é preciso ter técnicas específicas para fazer diagnósticos. Os alunos irão desenvolver um conjunto de processos para fazerem um diagnóstico e, ao mesmo tempo, avaliar como é que as pessoas se adaptam aos processos de mudança nas organizações. Ao nível da UC de Gestão de Recursos Humanos, queremos que os alunos tenham uma visão sobre o planeamento estratégico de recursos humanos dentro das organizações.
Destaco ainda outra competência relacionada com a promoção do bem-estar e qualidade de vida das organizações que é vincada na UC de Psicologia Social Aplicada.
Não menos importante é a componente de estágio. Temos excelentes parcerias com várias entidades, como a Autoeuropa, o Centro de Psicologia Aplicada do Exército, diversos organismos públicos, como as câmaras de Almada e Setúbal, os serviços municipalizados de água e saneamento de Almada, algumas escolas e empresas consultoras, como a Paula Tomás Consultores. Nestas instituições, os estudantes desenvolvem competências práticas e de confronto com a realidade. São, em síntese, 450 horas de uma mais-valia aplicada à realidade individual, social e organizacional.
Olhando agora para o futuro, em termos de empregabilidade, quais as saídas profissionais para os diplomados?
É uma excelente questão, porque as pessoas precisam naturalmente de empregabilidade. Ao nível das empresas privadas, os futuros profissionais irão ocupar cargos de responsabilidade ao nível do bem-estar laboral, da promoção da saúde ocupacional, da ergonomia ou da gestão do stress. Mas também poderão fazê-lo ao nível dos serviços públicos na Administração Pública. Temos, aliás, em curso um projeto onde estamos a fazer um levantamento de competências e os estudantes terão empregabilidade no desenvolvimento de novos modelos de competência e na promoção e prevenção dos riscos psicossociais.
As organizações do terceiro setor, designadamente as ONG, são também relevantes ao nível das saídas profissionais, em termos de programas de intervenção social, projetos comunitários, de solidariedade e apoio social, ligados a instituições de defesa de grupos vulneráveis.
Também não podemos esquecer a área educacional e académica, onde os nossos estudantes estão preparados através de uma unidade curricular de formação específica, ao nível da gestão e promoção de novos programas de desenvolvimento curricular.
Por último, destaco a componente da consultoria externa. Esta é uma área bastante relevante, onde os alunos se tornarão consultores de recursos humanos, de peritagens laborais, de serviços de coaching psicológico, de mentoring para executivos, dando formação dirigida a empresas e respetivas equipas, assessorando todo o processo de inovação e digitalização, por forma a que os colaboradores estejam mais bem adaptados a estes contextos.
Termino referindo as áreas emergentes, como a psicologia do consumidor e a psicologia ambiental. São áreas em que temos unidades curriculares optativas e em que as saídas profissionais, ao nível de lidar com os desafios do ambiente e da sustentabilidade, são hoje importantes.
Enquanto coordenador do mestrado, qual o perfil de estudantes que ambiciona ter no próximo ano letivo?
Os nossos estudantes caracterizam-se pelo seu sentido crítico e pela sua motivação. Ambicionamos pessoas interessadas em compreender os fenómenos socias e organizacionais, ou seja, aquilo que acontece em termos de mudança no cenário empresarial.
Esta vertente de compreensão de processos macro é fundamental para que o psicólogo organizacional possa perceber desafios de ordem macro que acabam por ter impacto ao nível individual. É importante absorver uma componente teórica, mas todos os estudantes deverão saber aplicar e transferir conhecimento. Isto é, têm de ser pessoas resilientes e capazes de trazer mudança para as organizações.
Acima de tudo, pretendemos que sejam capazes de promover a saúde mental e o bem-estar organizacional.
O mestrado é lecionado num campus, neste caso Almada, onde os seus estudantes irão interagir diariamente com colegas que estão a formar-se em áreas bastante diferentes. Na sua opinião, isso é uma vantagem ou uma desvantagem?
Essa é, talvez, a vantagem mais relevante do campus de Almada que tem um ambiente académico verdadeiramente singular. No campus coexistem diversas áreas académicas, desde a psicologia à educação, passando pela gestão, saúde, desporto e tecnologia. Com o salto dado ao nível da investigação, o que fazemos é aproximar e interligar estas comunidades académicas. Isto significa que os estudantes do nosso mestrado tanto se podem ligar a uma componente mais de educação como a uma componente mais tecnológica, de que o projeto XR5 de que falei antes é um exemplo. Ter estudantes de diversas áreas, com diversas competências, potencia a complementaridade.
Outro aspeto relevante é a criação de redes de contato e de projetos comuns. Ou seja, a criação de conexões a diversos níveis que os estudantes são capazes de levar para a sua vida. Esta comunidade Piaget é importante na medida em que permite construir projetos mais globais e que respondem aos desafios da sociedade.
Para terminar, quem é, afinal, o Professor António Rosinha?
Fiz um percurso sui generis, muito diversificado, e que pode mostrar aos estudantes que não temos de estar amarrados sempre à mesma área. Iniciei o meu trajeto com uma formação militar, feita na Academia Militar, pautada por vários anos de comando, dedicados a perceber o que é que as pessoas pensam e como se desenvolvem as pessoas. Isto levou-me a estudar ainda mais e tirar uma nova licenciatura em Psicologia e, mais tarde, um doutoramento em Psicologia Social e das Organizações.
Portanto, sou alguém que foi levado a perceber, do ponto de vista organizacional,
o que é que as instituições precisam em termos de processos de transformação e de inovação. Isto levou-me a enveredar pela componente de investigação, e ainda agora terminei, por exemplo, uma dissertação sobre liderança tóxica e culturas tóxicas.
Resumindo, e em traços gerais, o meu trajeto começou por ser prático, depois académico, e atualmente desenvolvo estudos de investigação e processos de consultoria. Ao nível da liderança empresarial, tenho desenvolvido, por exemplo, programas de transformação que sejam capazes de desafiar as pessoas a pensar de acordo com os novos desafios, ligados à sua cultura e identidade. Na prática, procuro ser um facilitador destes processos, aliando a teoria à prática.
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