Relações Internacionais: um curso com foco nas grandes dinâmicas contemporâneas
Entrevista com a Professora Joana Ricarte, coordenadora da licenciatura em Relações Internacionais, lecionada no Piaget de Viseu
Muitos conhecem a sua cara pela presença diária nas nossas televisões, onde é comentadora residente como especialista em relações internacionais. Além de professora, é membro eleita das estruturas de governo da European International Studies Association (EISA), a associação profissional na área das relações internacionais mais relevante na Europa, na qual é coordenadora da secção de Estudos da Paz na conferência anual Pan-European Conference on International Relations.
É também membro do conselho consultivo da Organization for Identity and Cultural Development (OICD) no Reino Unido, investigadora associada ao Centro de Estudos em Conflito e Paz (CCP) do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (NUPRI) da Universidade de São Paulo, no Brasil, e tem colaborado com a UPEACE, a Universidade da ONU, em cursos de formação avançada na área da diplomacia cultural.
Estas redes internacionais onde Joana Ricarte se insere são uma mais-valia para os estudantes do Piaget, no sentido de contribuírem para o estabelecimento de parcerias institucionais através das quais os alunos do curso podem realizar estágios e períodos de mobilidade em organizações internacionais e instituições de ensino superior no exterior.
Adicionalmente, é investigadora principal em diversos projetos científicos com financiamento nacional e internacional. O destaque vai para o projeto “OppAttune – Countering Oppositional Political Extremism through Attuned Dialogue: track, attune, limit”, financiado pela Comissão Europeia em três milhões de euros. Estes projetos proporcionarão aos alunos oportunidade de integração e estágios de investigação com equipas científicas multiculturais e interdisciplinares.
As nossas televisões, jornais e meios online preenchem atualmente uma parte significativa das suas notícias e conteúdos com base em temas internacionais. Qual é a importância das relações internacionais no mundo contemporâneo?
As relações internacionais são uma disciplina académica, mas também uma prática política que tem uma importância enorme para qualquer dimensão nacional. É através das relações internacionais que os Estados comunicam entre si, decidem questões de cooperação, questões relacionadas com o comércio, a diplomacia, a cultura, a mobilidade urbana ou a proteção das suas fronteiras, bem como os contextos em conflitos de guerra.
As relações internacionais são atualmente não apenas um campo de estudo, mas também a forma como nosso sistema internacional se organiza e como nós interagimos num contexto internacional. São, por isso, essenciais para outras disciplinas académicas e são indispensáveis para as políticas, para a sociedade e para nós indivíduos, seja quando viajamos porque queremos conhecer outros lugares do mundo ou quando queremos trabalhar noutros locais. Em resumo, são fundamentais para a nossa vida em comunidade.
Relativamente à licenciatura que coordena, que tipo de competências é que os estudantes irão desenvolver ao longo do curso?
Esta licenciatura do Piaget foi desenhada com o foco nas grandes dinâmicas contemporâneas das relações internacionais que estão atualmente em franca mudança. Isto num contexto em que muitos reconhecem – tanto na política, como na academia – como sendo de redesenho da ordem global que foi estabelecida após a II Segunda Guerra Mundial e foi consolidada com a queda da União Soviética nas décadas de 80/90.
Esta ordem global está agora claramente em mudança com a emergência de novos poderes, com a mudança de posição dos Estados Unidos, com o reposicionamento da Europa no mundo, com novas guerras e crises, e com questões globais com as quais temos de lidar num mundo cada vez mais interconectado pelas tecnologias e pelas relações humanas.
O nosso curso reflete precisamente estas novas dinâmicas. A licenciatura tem, pelo menos, duas grandes vertentes, que resultam de uma decisão estratégica da coordenação do ponto de vista pedagógico. Por um lado, um foco nas relações internacionais na dimensão do multilateralismo, da diplomacia, e da guerra e da paz, designadamente nos estudos de paz e segurança que são uma subárea das relações internacionais com grande relevância no mundo atual. Por outro lado, um foco na perspetiva regional, nomeadamente no espaço europeu, no qual Portugal se insere. Este foco é cada vez mais relevante numa fase em que a União Europeia começa a repensar a sua posição no mundo e a sua projeção enquanto ator global. Temos ainda, nesta segunda vertente, a componente da CPLP que faz parte das relações centrais de Portugal, sejam comerciais, culturais ou diplomáticas.
Portanto, acreditamos que o curso dá aos alunos uma formação sustentada enquanto membros da comunidade portuguesa e dos tópicos relacionados com Portugal inserido no mundo, bem como uma ampla formação ao nível das relações internacionais numa perspetiva mais global.
Uma questão que está seguramente na cabeça de todos os interessados nesta área é saber quais as saídas profissionais disponíveis para os futuros diplomados em Relações Internacionais. Quer dar-nos alguns exemplos?
As saídas profissionais clássicas das Relações Internacionais estão relacionadas com a diplomacia e com a possibilidade de os futuros licenciados serem membros do corpo diplomático do seu próprio país. Por outro lado, há a possibilidade de trabalhar em organizações internacionais, como a ONU, em organizações não-governamentais ou em organizações humanitárias.
Há também uma dimensão importante, que tem a ver com o comércio internacional e com áreas ligadas ao tecido empresarial. Os profissionais de Relações Internacionais são procurados por grandes empresas que operam com exportações e importações ou onde existem dimensões culturais e diplomáticas relevantes. O nosso curso dá aos estudantes conhecimentos de base na vertente da economia e da economia política que podem mais tarde ser aprofundados num mestrado na área do comércio internacional.
Voltando à dimensão nacional, um profissional de Relações Internacionais tem ainda possibilidade de trabalhar nos media, na política, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, designadamente a prestar consultoria para a nossa própria política externa, e – claro – na academia. Temos um curso sólido, consolidado e que dá grande importância na parte da teoria e dos conceitos das relações internacionais que constitui o apport necessário para quem tem vontade de seguir a vida académica.
Enquanto coordenadora da licenciatura, qual é o perfil de estudantes que ambiciona ter no próximo ano letivo?
Numa licenciatura em Relações Internacionais ambicionamos claramente um perfil interdisciplinar. Isto é, estudantes com gosto e interesse pela política, incluindo a política internacional, e pela história, não apenas a história contemporânea, uma vez que as nossas relações internacionais são resultado de um longo processo formativo enquanto sociedade. Desejamos também estudantes curiosos e com vontade de aprender mais sobre questões de media e de comunicação. Diria que tudo o que gira em torno da interdisciplinaridade na área das ciências sociais e das humanidades cabe dentro do perfil dos nossos estudantes.
Adicionalmente, incluo a curiosidade pela psicologia política, na medida em que temos aqui um fator diferenciador da maioria das licenciaturas em Relações Internacionais lecionadas em Portugal. Refiro-me à política na perspetiva psicológica, ou seja, à compreensão da dimensão psicológica da política. Tendo também o Piaget de Viseu uma licenciatura em Psicologia, com grande relevância, esta é uma dimensão que desejamos ver aprofundada pelos estudantes.
O Piaget é uma referência na formação de estudantes do ensino superior em Portugal. O que é que mais valoriza na nossa instituição?
O Piaget tem mais de 45 anos de existência, o que significa que é uma instituição consolidada no panorama nacional, e não só. Para além do campus de Viseu, onde é lecionada a licenciatura em Relações Internacionais, existem mais três polos de ensino superior, de norte a sul do país, designadamente em Gaia, Almada e Algarve.
Para além disso, o Piaget é uma marca com projeção internacional. Dispõe de polos universitários em mais dois continentes, nomeadamente na América Latina, neste caso no Brasil, e em África, em vários países de língua portuguesa. Trata-se, por isso, de uma instituição global.
Este fator reflete-se na forma como o Piaget estabelece parcerias globais, não só com as suas congéneres dos outros países, mas também com outras universidades onde existem pontos de contacto através das redes dos docentes, seja na Europa ou fora dela.
Assim, o que mais valorizo na instituição é esta possibilidade de diálogo e de interação, bem como a oportunidade de trazer os estudantes para uma rede que é global e que não está fechada em si mesma.
Falando de Viseu, quais as vantagens de estudar num campus em que os estudantes, por exemplo, vão ter contato diário com colegas de diferentes cursos? Não sei se do seu ponto de vista, isso será uma vantagem ou uma desvantagem…
É claramente uma vantagem. Já aqui referi, por exemplo, a ligação e cooperação com o curso de Psicologia do Piaget de Viseu. A possibilidade de contactar com estudantes de outras licenciaturas ou de poder participar em eventos organizados por outras áreas científicas é sempre importante para os alunos, na medida em que encontram aqui uma via para expandir os seus horizontes, alargar os seus conhecimentos e integrar outros saberes na sua própria formação.
Por outro lado, o Piaget de Viseu é um campus muito agradável, com um grande espaço verde, onde os estudantes se cruzam com facilidade e fazem dele um ponto de encontro e de contacto. Temos também um corpo docente no campus, inclusive de outras áreas científicas, com grande disponibilidade para apoiar os estudantes de Relações Internacionais que tenham interesse em dialogar com outras disciplinas. Acredito, por isso, que há aqui um espaço de aprendizagem, de ensino e de troca de saberes entre docentes e estudantes, e entre os próprios estudantes de diferentes áreas, que será vantajoso e favorável à formação.
Para além disso, destaco o facto de a licenciatura em Relações Internacionais do Piaget de Viseu preencher uma lacuna em termos de distribuição geográfica. Esta era uma região onde o curso não existia. As cidades mais próximas onde a licenciatura estava disponível são Coimbra e Porto. O facto de passar a existir nesta zona do interior do país é uma grande mais-valia para quem quer aprofundar os estudos nesta área.
Para terminar, quem é, afinal, a Professora Joana Ricarte, para além da convidada que nos habituámos a ver diariamente na televisão na qualidade de comentadora especialista em relações internacionais?
Sou licenciada em História. Ou seja, a minha formação de base é numa área que serve de suporte para diversos outros saberes e que traz um apport sólido para se discutir as relações internacionais – neste caso, não enquanto acontecimento do dia a dia, como vemos nos órgãos de comunicação social, mas ancorado num passado que revela toda a construção de um sistema que não para de se transformar. Adicionalmente, sou mestre e doutorada em Relações Internacionais pela Universidade de Coimbra, com especialização em estudos de paz e segurança.
Dediquei 20 anos da minha investigação ao conflito israelo-palestiniano que, infelizmente pelas piores razões, voltou agora a ganhar grande relevância. Sou autora de um livro sobre este tema, intitulado “The Impact of Protracted Peace Processes on Identities in Conflict: the case of Israel and Palestine”, publicado pela Palgrave Macmillan, numa coleção liderada por académicos que são uma referência global na área de estudos da paz e segurança.
Trabalho atualmente com questões de extremismo e radicalização, inclusive no âmbito nacional, e na forma como isso se relaciona com o crescimento de uma onda autocrática na Europa. A minha experiência nos media tem sido também muito vantajosa, porque ampliou os meus horizontes em termos de investigação.
Para além disso, na minha interdisciplinaridade, trabalho com questões de identidade e de património, tendo também experiência de ensino a nível de mestrado e doutoramento na área do património cultural e museologia, o que não deixa de estar relacionado com a nossa identidade, a nossa relação comunitária e a forma como nos projetamos no mundo.
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