Da boa relação com a comida ao papel essencial do nutricionista
Entrevista a Rui Poinhos, coordenador da licenciatura em Dietética e Nutrição, lecionada no Campus Piaget de Gaia
A oferta formativa do Piaget no domínio da saúde acaba de ser enriquecida com o lançamento da licenciatura em Dietética e Nutrição. O curso, com a duração de quatro anos (240 ECTS), é lecionado na Escola Superior de Saúde Jean Piaget em Gaia e coordenado pelo professor Rui Poinhos, especialista em nutrição clínica.
Nesta entrevista, o docente explica as mais-valias da licenciatura e muitas questões práticas úteis para os novos estudantes, numa área em que os desafios relacionados com cuidados de saúde são crescentes e o grau de exigência dos cidadãos também.
Como é que se promove a saúde e o bem-estar através da alimentação e do aconselhamento alimentar?
Atualmente, é inegável que a alimentação está presente em muitas camadas da nossa vida em termos daquilo que se entende como saúde e bem-estar. De facto, não podemos pensar na alimentação na vertente clássica do nutricionista, de atuação apenas para tratar ou prevenir doenças, mas devemos ter em conta uma perspetiva mais ampla de bem-estar, de promoção de uma relação de prazer com os alimentos. Esta boa relação com a comida é a grande função do nutricionista hoje em dia, que inclui – obviamente – a prevenção da doença, mas considera igualmente toda a camada cultural e individual da pessoa junto de quem se intervém.
A licenciatura em Dietética e Nutrição combina, como é normal, teoria e prática na avaliação, planeamento e implementação das melhores estratégias nutricionais. Que competências é que os estudantes irão desenvolver ao longo do curso?
Espero que consigam desenvolver não só as competências mais teóricas e académicas, mas também as competências práticas e, acima de tudo, as consigam articular. A licenciatura foi pensada com base nessa articulação entre teoria e prática, que deverá funcionar nos dois sentidos. Daí o facto de ter sido criada uma estrutura com três semestres de estágio, que permitirão que a articulação entre teoria e prática seja gradual e possa ser aplicada às diferentes áreas das Ciências da Nutrição.
Mas não queremos só isso. Um nutricionista é um profissional de saúde e, como tal, terá necessariamente de ter competências humanas e sociais bem desenvolvidas, que também se desenvolvem em contexto académico.
O Piaget é uma referência académica na formação de profissionais de saúde em Portugal, com uma oferta formativa que se alarga a vários outros cursos. O que é que a Dietética e Nutrição vem acrescentar a essa oferta?
Como dizia, é inegável o papel da alimentação nas ciências da saúde, tal como é importante na saúde das populações e de cada pessoa individualmente considerada. A licenciatura em Dietética e Nutrição encaixa muito bem na oferta formativa do Piaget de Gaia (que é a estrutura com a qual estou mais familiarizado) na medida em que se articula e complementa várias outras áreas. É importante que ao longo do curso os estudantes se articulem, conversem e socializem com colegas de outras áreas das ciências da saúde, designadamente de enfermagem, fisioterapia ou psicologia. Por isso, entendo que a criação de um núcleo alargado de estudantes e docentes de diferentes áreas das ciências da saúde é vantajosa para todos.
Em termos de empregabilidade, quais as saídas profissionais disponíveis para os futuros diplomados em Dietética e Nutrição?
À partida, as saídas profissionais estão relacionadas com as diferentes áreas reconhecidas pela Ordem dos Nutricionistas em Portugal e que são três. Em termos de nutrição clínica, refiro o trabalho feito em hospitais, centros de saúde, clínicas privadas, mas também, e no âmbito da nutrição comunitária, a importância crescente das autarquias que empregam cada vez mais nutricionistas.
Outra área importante, e de que pouco se fala na comunicação social, é a área da alimentação coletiva e da restauração. Temos também outras áreas em expansão e em fase de grande especialização no nosso país, como a nutrição no desporto. A isto juntam-se funções que permitem a articulação com várias áreas, como funções de gestão, de investigação e de docência.
O curso, com os seus vários estágios, facilita um relacionamento mínimo com a prática profissional em diferentes áreas. Isto é muito importante na medida em que incentiva os estudantes a conhecer e deixar-se encantar por áreas que, à partida, estavam longe de ser aquelas que os levaram a ingressar na licenciatura.
Qual o perfil de estudantes que ambiciona ter no próximo ano letivo e qual o impacto que espera que eles venham a ter um dia na sociedade?
Queremos estudantes com vontade de se integrarem num grupo mais abrangente do que a turma de Dietética e Nutrição, com vontade de fazer a diferença, que tenham curiosidade científica, e com espírito crítico. Queremos também estudantes capazes de pensar no papel que terão um dia a nível profissional e social.
Tendo necessariamente de vir a interagir com pessoas, deverão ser estudantes com sensibilidade social e disponíveis para aprender competências sociais e humanas. É importante que compreendam muito bem realidades distintas das que estão presentes no dia a dia de cada um de nós, pois é isso que lhes permitirá adaptar estratégias a pessoas e grupos específicos da população – sendo estes aspetos muito importantes na prática de qualquer nutricionista.
O curso é lecionado num Campus, neste caso Gaia, onde os estudantes vão interagir diariamente com colegas que estão a formar-se em áreas diferentes, nalguns casos até fora da saúde. Na sua opinião, isso é uma vantagem ou desvantagem?
Em relação aos estudantes da área da saúde, é óbvia a vantagem. Mas mesmo em relação ao contacto com estudantes e profissionais de outras áreas, as vantagens continuam a existir, na medida em que, em termos de prática profissional, a nutrição não se restringe a contatos com profissionais da área da saúde. No caso do Campus do Piaget de Gaia, o tipo de ambiente e de espaço facilita bastante a interação ente estudantes de diferentes turmas e diferentes cursos. Espero que cada estudante consiga tirar o máximo benefício deste contexto, pois ele é um enorme facilitador para a sua prática profissional no futuro.
Falando de vantagens, quais as mais-valias de estudar em Gaia e no Campus do Piaget?
Relativamente ao Campus, gostaria de destacar o facto de estar muito bem equipado. Existindo já vários cursos na área da saúde, há um conjunto de laboratórios e de equipamentos disponíveis e que precisaram apenas de ser adaptados para funções mais específicas. Mas o principal já existia, o que facilitou o processo de construção do curso.
Por outro lado, existe um clima de grande proximidade entre docentes e estudantes. Existe um acompanhamento que é muito favorável para estudantes que estão em transição do Ensino Secundário para o Ensino Superior, com uma transição gradual que permite a autonomização a diferentes níveis e a diferentes ritmos.
Para terminar, quem é o Professor Rui Poinhos?
A minha formação de base é de nutricionista e trabalho na área da nutrição clínica há 21 anos. Sou docente no Ensino Superior há mais de 10 anos e tenho algumas paixões variadas na área das ciências da nutrição e do comportamento alimentar. Daí ter falado no início da relação com a comida, enfatizando agora essa relação de prazer, de segurança e de tranquilidade com os alimentos, sem esquecer a componente cultural e social associada ao ato de nos alimentarmos.
Agradam-me imenso as ligações a outras áreas, em particular à psicologia. Tenho também formação em psicologia e só depois disso regressei à base para me doutorar em Nutrição Clínica. Todas estas ligações entre a nutrição e outras ciências da saúde me agradam particularmente. E gosto muito, claro, da área do ensino e do acompanhamento de estudantes, razão pela qual estou ligado ao Piaget.
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