Mestrado em Psicologia da Saúde, uma especialização com impacto real
Entrevista com André Louro, coordenador do mestrado em Psicologia da Saúde, lecionado no Campus Piaget de Viseu
Nesta entrevista, o docente explica em detalhe as mais-valias do mestrado que coordena, aborda várias questões práticas relacionadas com o curso, e enumera as múltiplas saídas profissionais que estão ao alcance dos futuros mestres.
Numa altura em que tanto se fala da importância do bem-estar e da saúde mental dos portugueses, qual a importância da psicologia e qual o impacto da profissão de psicólogo na sociedade?
A psicologia desempenha um papel fundamental no bem-estar individual e coletivo e tem vindo a ser reconhecida como uma ciência essencial para a saúde mental. Os desafios têm crescido, desde a pandemia, a crise económica e as mudanças sociais rápidas, tudo isto contribuindo para o aumento da relevância do papel do psicólogo.
Gostaria de realçar alguns pontos importantes sobre esse papel. Um deles é a promoção da saúde mental e do bem-estar em prol de uma vida equilibrada e saudável. Neste caso, o psicólogo atua sobretudo na prevenção, avaliação e intervenção em situações de sofrimento, ajudando as pessoas a desenvolver estratégias para lidarem com situações como a depressão, a ansiedade ou o luto.
Outro ponto é a prevenção e intervenção precoce. Muitas vezes, o psicólogo pode intervir de forma a que as pessoas não desenvolvam nenhum tipo de problema. Adicionalmente, o psicólogo presta apoio em diversos contextos na área da saúde, como acontece nos hospitais, em situações de dor e sofrimento, atuando igualmente através da educação e da intervenção social e comunitária ao nível de grupos com necessidades distintas.
Por último, realço a promoção de uma igualdade e de uma justiça social, em que o psicólogo também desempenha um papel em contextos de vulnerabilidade social, promovendo a inclusão, os direitos humanos e a equidade no acesso à saúde. Ou seja, tem a função de combater o estigma e as desigualdades que afetam sobretudo as comunidades marginalizadas.
Há estudos que indicam que cerca de 20% dos portugueses vivem com problemas de saúde mental. Os portugueses vão pouco ao psicólogo? Ainda existe um estigma social associado à profissão?
Sim, apesar de nos últimos anos haver uma maior consciencialização, a verdade é que os portugueses ainda recorrem pouco ao psicólogo. Este facto está relacionado com vários fatores, desde o estigma social às barreiras económicas e à falta de acesso nos serviços públicos.
Refiro alguns dados relacionados com o plano nacional de saúde mental. Cerca de um em cada 5 portugueses sofre de algum problema de saúde mental, como depressão, ansiedade ou perturbações de sono. Acresce que Portugal tem uma das taxas mais elevadas de consumo de antidepressivos e ansiolíticos da Europa, o que pode refletir uma medicalização dos sintomas, em vez de uma abordagem psicoterapêutica.
Para além disso, menos de 10% da população recorre regularmente a apoio psicológico, havendo um desfasamento preocupante entre a necessidade e o acesso. Nesta matéria, existem algumas dificuldades, porque nem toda a gente tem acesso ao psicólogo através dos centos de saúde, e a nível privado há limitações para algumas pessoas devido ao fator custo.
O exercício da profissão de psicólogo é regulado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, que tem a missão de garantir a qualidade dos serviços e a ética profissional. Neste contexto, qual a importância do reconhecimento académico, e também científico, da formação em psicologia?
A psicologia é uma ciência que se baseia numa investigação empírica e rigorosa, através de modelos teóricos validados e de metodologias experimentais. Por isso, o reconhecimento científico da formação garante que os profissionais não se limitam a aplicar técnicas, mas que compreendem os fundamentos científicos da sua prática.
Adicionalmente, é importante haver uma atualização do pensamento crítico e uma formação contínua. Isto faz com que a Ordem dos Psicólogos tenha um papel decisivo na regulamentação da profissão.
Por outro lado, coloca-se a questão da credibilidade e da confiança pública. Note que a psicologia, comparada com outras ciências, é bastante recente, tendo vindo a ganhar uma legitimidade crescente, que é fundamental para o aumento da confiança da população. Daí o papel da Ordem na regulação do acesso à profissão, obviamente baseada em critérios académicos e científicos, cabendo-lhe promover uma formação contínua e o desenvolvimento profissional, bem como assegurar o cumprimento de um código de ética e de deontologia profissional.
Por fim, a Ordem defende a psicologia como uma ciência, com base na prática profissional, e acaba por combater práticas não validadas ou pseudocientíficas, muitas das quais circulam hoje em dia por via das redes sociais.
Que tipo de competências é que os estudantes desenvolvem ao longo do mestrado em Psicologia da Saúde?
O mestrado em Psicologia da Saúde acaba por ser bastante inovador, tanto mais que não existem muitos mestrados nesta área no nosso país. Ele permite que os estudantes possam desenvolver competências científicas, técnicas e, sobretudo, humanas, que preparam para intervir em contextos clínicos e de promoção da saúde com base em evidência científica e princípios éticos.
Esta formação acaba por ser multidimensional, refletindo a complexidade da relação entre fatores psicológicos, comportamentais, sociais e biológicos no processo da saúde e da doença. Os alunos vão aprender a fazer uma avaliação psicológica em contextos de saúde e a avaliar, por exemplo, o impacto psicológico das doenças físicas, seja a doença oncológica, a doença crónica ou as doenças cardiovasculares. Vão aprender a faze uma análise dos fatores emocionais, cognitivos e comportamentais que afetam a saúde e o processo de recuperação, tendo acesso à aplicação de instrumentos de avaliação psicológica.
Outro ponto importante é a intervenção psicológica em doença e promoção da saúde. Os alunos aprendem a fazer intervenções psicológicas em diferentes fases da doença (diagnóstico, tratamento e reabilitação), a intervir na promoção de comportamentos de saúde, seja na adesão a tratamentos, na promoção de uma alimentação saudável ou na gestão de stress, e a intervir com doentes, familiares e equipas multidisciplinares em hospitais, centros de saúde, lares ou unidades de cuidados continuados ou paliativos.
Para além disso, desenvolvem competências de comunicação e relacionais, que permitirão no futuro uma comunicação empática e eficaz com pessoas em sofrimento, a gestão de emoções em situações clínicas complexas e o trabalho em equipas interdisciplinares com médicos, enfermeiros e assistentes sociais.
Gostaria também de salientar a capacidade de investigação e de raciocínio científico, desenvolvendo com os alunos projetos de investigação na área da saúde e avaliando a eficácia de programas de intervenção. Recordo que o Piaget tem uma unidade de investigação multidisciplinar, o Insight, em que os alunos terão a oportunidade de fazer uma investigação de qualidade.
Depois de terminarem o mestrado, os estudantes terão acesso ao ano profissional júnior da Ordem dos Psicólogos Portugueses, que lhes permitirá prosseguir uma carreira como psicólogos. Realço, por isso, que o plano curricular do mestrado está não só alinhado com as orientações da Ordem dos Psicólogos, como com o Plano Nacional de Saúde e as orientações da Organização Mundial de Saúde.
Em termos de empregabilidade, quais as saídas profissionais para os diplomados?
Há uma diversidade grande de saídas. Temos o exemplo dos hospitais, sejam unidades de saúde públicas ou privadas, onde poderão trabalhar em serviços de oncologia, cardiologia, pediatria; participar em equipas multidisciplinares; dar apoio psicológico a vários tipos de doenças, sejam crónicas, degenerativas ou agudas; bem como trabalhar em centros de saúde, nos cuidados de saúde primários, em intervenções preventivas e de promoção de saúde junto da comunidade.
Podem dar apoio psicológico a adultos, crianças e idosos com problemas de saúde mental, tal como trabalhar em unidades de cuidados continuados e de cuidados paliativos. Podem intervir junto das famílias e dos cuidadores informais, e na promoção da qualidade de vida em fases avançadas da doença.
Podem igualmente trabalhar em clínicas privadas e consultórios de psicologia, sobretudo na promoção do autocuidado, gestão do bem-estar e dificuldades psicológicas relacionados com a saúde. Podem também trabalhar em instituições de solidariedade social, como IPSS, lares ou centros de dia, ou trabalhar na área do serviço da saúde ocupacional em empresas.
Podem seguir uma carreira de investigação no ensino superior, participando em projetos de investigação nacionais e internacionais. Por fim, e através de ONGs, podem participar em projetos comunitários e de cooperação internacional, em projetos de saúde pública e intervenção em contextos de crise humanitária ou situações de catástrofe.
O Piaget é uma referência na formação de diplomados em psicologia e de psicólogos que fizeram o 2º ciclo de estudos na nossa instituição. O que é que esta experiência de bastantes anos acrescenta em termos de valor na formação dos nossos estudantes?
O Piaget tem uma tradição formativa com foco nos valores humanistas, éticos e sociais que, na área da saúde em geral e da psicologia em particular, acaba por ter um papel determinante. A experiência da instituição reflete-se também na formação dos profissionais no sentido da responsabilidade social e do compromisso com o bem-estar da comunidade. Os estudantes formados na instituição integram-se com facilidade no mercado de trabalho, seja em contextos clínicos, institucionais ou comunitários, o que reforça a imagem positiva do Piaget e funciona como um ponto de referência para as novas gerações dos estudantes.
O mestrado é lecionado num Campus onde os seus estudantes irão interagir diariamente com colegas que estão a estudar em áreas bastante diferentes. Na sua opinião, isso é uma vantagem ou uma desvantagem?
Só vejo vantagens. Primeiro, acaba por haver um desenvolvimento de competências transversais, com a convivência com colegas de outras áreas. Há uma vantagem importante no desenvolvimento de estratégias de comunicação e empatia, pensamento crítico e trabalho em equipa. Os estudantes adaptam a sua linguagem e a sua forma de cooperar com estudantes de outras áreas. No fundo, estas interações funcionam como uma espécie de preparação para o trabalho em equipas multidisciplinares, o que é fundamental na área da psicologia, uma vez que é impensável trabalhar isoladamente.
Depois é importante haver uma abertura mental e cultural. O Piaget recebe estudantes de várias origens, mantendo uma relação próxima com os países de língua oficial portuguesa. Para os estudantes isto proporciona uma visão mais abrangente e crítica do mundo, que os prepara melhor para a profissão e para lidarem com a diversidade humana. Toda a aprendizagem se torna mais dinâmica e estimulante, permitindo uma experiência académica mais rica.
O que mais valoriza no Campus de Viseu do Piaget?
Valorizo um ambiente académico acolhedor e um ensino de proximidade, uma vez que os estudantes não são apenas números. Os alunos são acompanhados de uma forma próxima pelos docentes, o que facilita a aprendizagem, o acompanhamento individual e o crescimento pessoal e profissional.
Adicionalmente, existe uma forte ligação à comunidade local e regional. Temos várias parcerias com instituições de saúde, com IPSS, escolas e autarquias, o que facilita o acesso a estágios, projetos e iniciativas com impacto na sociedade. Ou seja, os estudantes têm oportunidade de aplicar o que aprendem em contextos concretos e isso permite-lhes desenvolver uma competência ativa na região de Viseu.
Por outro lado, e em termos de infraestruturas, dispomos de instalações bem equipadas, num Campus com uma componente ecológica importante, que contribui para uma experiência académica equilibrada. Temos um auditório de psicologia com todo o material de apoio necessário e uma Clínica Piaget em Viseu que permite aos estudantes e docentes uma intervenção ao nível da comunidade.
Para terminar, quem é o professor André Louro?
Fiz o doutoramento na Universidade Autónoma de Barcelona, cidade onde vivia, e fiz investigação no Instituto Português de Oncologia, estando desde sempre ligado à área oncológica. Tenho dedicado a minha vida a trabalhar com doentes oncológicos, com os seus familiares e os seus cuidadores.
Continuo a fazer investigação, com várias colaborações a nível internacional no domínio das doenças crónicas. Espero poder transportar estas experiências para o mestrado, uma vez que me parece importante que os estudantes possam também ter contacto com outro tipo de instituições, designadamente a nível internacional.
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