A Psicologia está em tudo o que somos e fazemos
Entrevista a Janete Moreira, coordenadora-adjunta da licenciatura em Psicologia no Campus de Almada
Não existe saúde sem saúde mental, começa por frisar a professora Janete Moreira, coordenadora-adjunta da licenciatura em Psicologia no Campus de Almada. O curso é lecionado no ISEIT de Almada, uma das prestigiadas instituições do Ensino Superior existentes no campo universitário do Piaget localizado na margem sul do Tejo.
Nesta entrevista, a docente fala sobre as mais-valias da licenciatura, de várias questões práticas relacionadas com o curso e do futuro que espera um diplomado em Psicologia, recordando que não é possível aceder à profissão de psicólogo sem o respetivo mestrado.
Numa altura em que tanto se fala da saúde mental dos portugueses e da importância de cuidar dela tanto quanto cuidamos da saúde física, qual a importância da Psicologia no contexto atual e qual o impacto da profissão de psicólogo na sociedade?
A questão tem várias perspetivas sobre as quais o tema pode ser visto. Antes de mais, convém ter presente que não existe saúde sem saúde mental. Ou seja, a saúde mental é tão importante como a saúde do braço, da perna ou do olho, fazendo parte de um todo. Neste sentido, sem dúvida que os psicólogos desempenham também um papel relevante.
Por outro lado, costumamos dizer que a psicologia está em tudo e em todo o lado. Ela é, às vezes, e desculpem a expressão, um pouco “matreira”. Isto porque os processos psicológicos acontecem dentro de nós e não se veem, e, nesse sentido, têm tendência a ser desvalorizados. Ainda assim, é fundamental trazer o tema da saúde mental para o mundo onde nos mexemos, seja social ou digital, e torná-lo presente no dia a dia das pessoas.
Em resumo, os psicólogos têm, de facto, um papel relevante do ponto de vista da ajuda às pessoas. Desde logo para que elas se possam conhecer melhor e para, dito de forma simplista, encontrar as estratégias que possam ser adaptadas o mais possível à realidade de cada pessoa.
Há estudos que indicam que cerca de 20% dos portugueses vivem com problemas de saúde mental. Os portugueses vão pouco ao psicólogo? Ainda existe um estigma social à volta desta profissão?
Creio que ainda existem algumas inquietações sobre isso. Não creio que possamos usar o termo estigma, até porque somos uma profissão reconhecida, que dispõe inclusive de uma Ordem que agrupa e protege os psicólogos. Mas ainda assim não há tanta gente a procurar este tipo de ajuda quanto deveria.
Se calhar, deveríamos falar da existência de um psicólogo de família, tal como falamos de um médico de família ou um enfermeiro de família. Este deveria ser um serviço ao dispor de qualquer pessoa e, infelizmente, não está acessível a todas as bolsas. Não porque a prestação do serviço seja cara, mas porque não atingiu o nível de reconhecimento desejado.
Portanto, respondendo de uma forma direta, sim, ainda há poucas pessoas a irem ao psicólogo. Não tanto por estigma, mas por desconhecimento, por falta de oportunidade, por falta de mais serviços e até de mais apoios no âmbito psicológico, inclusive dentro das organizações. Não podemos esperar que todas as pessoas sejam capazes de procurar este tipo de ajuda de forma autónoma. Mas há contextos onde o trabalho em equipa e hierarquizado poderia e deveria ser facilitador do acesso a serviços de apoio psicológico.
Que tipo de competências é que os estudantes vão desenvolver ao longo do curso?
A formação do psicólogo deve ser muito completa. Desde logo, destaco as competências do ponto de vista científico e técnico. É uma frase recorrente no diálogo com os alunos evidenciar que o que estão a aprender é uma ciência. Por isso, o plano de estudos da licenciatura, e complementarmente dos mestrados, consoante a especialidade que cada estudante escolher no 2º ciclo de estudos, está montado de uma forma bastante ampla. Isto para que as aprendizagens se centrem não só nos conteúdos ao nível da evolução da psicologia enquanto ciência, mas também do ponto de vista técnico e das estratégias que será necessário os estudantes desenvolverem com os seus futuros clientes e equipas, de acordo com a especialidade escolhida.
Não menos importante, o curso é também uma oportunidade de autoconhecimento. Cada aluno que passa pela licenciatura em Psicologia deve investir em si próprio enquanto pessoa, conhecer-se, descobrir as suas potencialidades, saber quais as áreas em que deve investir e desenvolver mais. Neste sentido, o papel dos docentes é também o de dar apoio neste processo duplo de construção interna e externa.
Em termos de empregabilidade, o que devem fazer os diplomados após a licenciatura: tentar entrar de imediato no mercado de trabalho ou prosseguir os estudos para um mestrado, para aumentar o leque de saídas profissionais?
Convém ter presente que nenhum psicólogo pode aceder à profissão sem o mestrado. Com uma formação de base e uma licenciatura em Psicologia é possível entrar no mercado de trabalho, mas não como psicólogo.
Do ponto de vista da empregabilidade e da construção de um plano de carreira, é importante que haja uma proatividade que permita ao psicólogo construir o seu próprio percurso e a sua carreira. É normal que na licenciatura e no mestrado os estudantes estejam entusiasmados a traçar os seus objetivos pessoais e profissionais, e a explorar as várias opções no mercado. Neste processo, aconselharia a explorar dimensões que são menos conhecidas, nomeadamente a área da investigação, tendo em conta que a proximidade com os processos investigativos só acontece no mestrado na altura da elaboração da dissertação. O importante é que os estudantes desenvolvam também as suas competências enquanto investigadores da sua própria carreira, numa lógica de empregabilidade e de investirem em si próprios.
O Piaget é uma referência académica na formação de diplomados em Psicologia e de psicólogos, com licenciatura e vários mestrados em Almada e Viseu. Até que ponto esta experiência consolidada é uma mais-valia na formação dos nossos estudantes?
É claramente uma mais-valia, tendo em conta o número de estudantes que procuram o Piaget para fazer a sua formação superior. O facto de termos um âmbito nacional, e até internacional, permite um funcionamento em rede, com diferentes polos universitários que se apoiam mutuamente, o que não é comum encontrar noutras instituições do Ensino Superior.
Por isso, quando os alunos chegam até nós, na maioria dos casos já estão conscientes de que o Piaget é uma grande instituição académica, com diferentes polos a nível nacional.
O que nos pode dizer sobre o perfil dos alunos que estão atualmente a frequentar o curso e o perfil de estudantes que ambiciona ter no próximo ano letivo?
Devo dizer que a minha experiência no Ensino Superior é relativamente recente e tem sido muito melhor do que estava à espera. Mais do que alunos, tenho encontrado pessoas atentas, curiosas, conscientes do percurso que escolheram fazer e disponíveis para aprender. Digo isto com alguma surpresa, mas com vontade de sublinhar as potencialidades das novas gerações que, por vezes, não são bem vistas ou se entende que têm vindo a perder qualidades enquanto seres humanos.
O perfil que tenho encontrado nos últimos anos é, de facto, de estudantes que querem ser os melhores profissionais do mercado. Daí que as expetativas para o próximo ano se mantenham altas. Temos estudantes que vêm de um percurso direto do Ensino Secundário, outros que vêm de áreas diferentes da psicologia, da educação ou da saúde, e esta variedade é uma vantagem. Este é um terreno onde, por exemplo, as lógicas de aprendizagem cooperativa fazem muito sentido e podem ser mais bem exploradas.
Apesar da importância crescente da tecnologia nos últimos anos, estar num contexto de ensino presencial e de criação de relações interpessoais é muito relevante para o perfil dos psicólogos que ajudamos a formar.
A sua licenciatura é lecionada num Campus universitário onde os estudantes de Psicologia interagem diariamente com colegas que estão a formar-se em áreas muito diferentes. Isso é uma vantagem ou uma desvantagem?
É uma grande vantagem, tendo em conta que precisamos de um mundo cada vez mais multidisciplinar. Comecei esta conversa a dizer que a Psicologia está em todo o lado, pelo que não é difícil encontrar pontos em comum com os conteúdos e as competências desenvolvidas pelos estudantes de outras áreas.
Ainda que pudesse haver alguma desvantagem do ponto de vista da perca de identidade, pelo facto de existir esta variedade de cursos, creio que ela seria superada pelo facto de cada curso ter um espaço próprio para promover a sua própria linguagem. Assim, linguagens diferentes e complementares entre as várias áreas funcionam com uma vantagem.
Quais são as vantagens de estudar em Almada?
Creio que está na conciliação do melhor de dois mundos: por um lado, a nossa proximidade ao mar e às praias; por outro, a proximidade à capital, com acessos muito facilitados. A geografia é bastante favorável ao Campus e é um fator facilitador para os estudantes, designadamente para os que vêm das zonas de Setúbal ou Alcácer, por exemplo, e que não precisam de ir estudar para Lisboa.
Para terminar, quem é a Professora Janete Moreira?
Sou uma pessoa apaixonada pela Psicologia e, em especial, pela Psicologia da Educação, que é a minha área de eleição, tanto enquanto profissional como enquanto pessoa.
Sou também apaixonada pelos processos de investigação. Defendo que somos sobretudo investigadores de nós próprios e que esse tipo de atitude, quando perpassa todas as atividades da nossa vida, inclusive as pessoais, nos ajuda a melhorar sempre.
Há ainda duas vertentes que gostava de destacar e que são a lógica da prevenção e da promoção. Sou muito defensora destes dois elementos. Ou seja, nós, psicólogos, não devemos esperar que exista um problema para poder atuar; o nosso trabalho será mais útil e pertinente se atuarmos numa lógica da prevenção, do desenvolvimento de competências, de adaptação a um mundo que sabemos em constante mudança e evolução.
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