Primeira Licenciatura em MTC garante qualidade, rigor académico e valorização da profissão
Entrevista a Pascoal Amaral e Ana Varela, coordenadores da Licenciatura em Medicina Tradicional Chinesa
Os professores Pascoal Amaral e Ana Varela são os coordenadores da Licenciatura em Medicina Tradicional Chinesa, ou mais abreviadamente MTC, um curso lecionado no Campus do Piaget de Almada, desde 2024.
Trata-se da primeira licenciatura oficial em MTC reconhecida no Ensino Superior em Portugal e alinhada com os referenciais europeus.
O facto de estarmos a falar de um curso inovador, numa área ligada à prestação de cuidados de saúde com enorme potencial, são apenas duas das razões que nos levam a conversar com os dois responsáveis do curso.
O que faz um especialista em Medicina Tradicional Chinesa – ou MTC, de forma simplificada – e qual a utilidade da profissão?
Pascoal Amaral: O especialista em Medicina Tradicional Chinesa é um profissional de saúde que se caracteriza por observar o binómio da saúde-doença por uma visão única, não considerando apenas a perspetiva do tratamento da doença, mas privilegiando, acima de tudo, a visão de que a saúde deve ser preservada e fortalecida e que a doença deve ser prevenida.
Para tal, e embora um especialista de MTC tenha várias valências de intervenção – como a acupunctura tradicional, a prescrição da matéria terapêutica oriental e ocidental, o aconselhamento dietético segundo os princípios da MTC, a massagem Tui Na e a prescrição de exercícios físicos e energéticos, como o Chi Kung e o Tai Chi –, ele deve reger a sua prática clínica por uma visão holística do ser humano, da saúde, da abordagem terapêutica e também da vida em si. Ou seja, para um especialista de MTC não importa conhecer apenas a queixa que um paciente apresenta, mas importa, acima de tudo, conhecer detalhadamente o funcionamento energético, os seus vários sistemas fisiológicos, a forma como estes se relacionam e favorecem a homeostasia corporal. Importa também compreender as dinâmicas psicossociais dos indivíduos para que seja possível traçar um perfil de comportamentos e projetar estratégias que visem a modelação das atitudes e das condutas numa perspetiva de educação para a saúde.
Relativamente à utilidade da profissão, e embora estejamos a falar de uma terapêutica tradicional com conhecimentos milenares, atualmente a visão holística da MTC encerra uma ideia e integração e de inovação, tanto na perspetiva do diagnóstico diferencial, como na perspetiva da abordagem terapêutica diferenciada e do trabalho clínico que pode ser partilhado com outras profissões de saúde em equipas multidisciplinares.
Por outro lado, a MTC, ao ser disponibilizada à população em geral, para além de contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, para a transformação dos comportamentos e para a transformação da visão sobre a saúde, futuramente contribuirá para a produção de ganhos económicos significativos para o próprio país, especialmente no que diz respeito à redução do impacto de algumas doenças que acarretam custos avultados.
O Piaget foi uma instituição precursora nesta área ao lecionar a primeira licenciatura reconhecida em Portugal. Qual a importância deste reconhecimento oficial?
Ana Varela: A importância do reconhecimento oficial é enorme, especialmente para quem está a escolher o seu futuro profissional. O facto de a licenciatura em Medicina Tradicional Chinesa do Piaget ter sido a primeira reconhecida em Portugal garante qualidade, rigor académico e valorização no mercado profissional.
Ser reconhecido significa que o curso segue padrões definidos pelo Estado, que foi confirmada a sua qualidade pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, e que oferece um diploma válido e credenciado. Significa também que a licenciatura vai preparar profissionais qualificados para atuar com segurança na área da saúde. Esse pioneirismo é também um compromisso que o Piaget assumiu na inovação e na excelência do ensino, de modo a garantir uma formação sólida, com saídas profissionais reais e sustentadas legalmente.
Qual é, então, o objetivo geral deste novo ciclo de estudos no Piaget?
Pascoal Amaral: O ciclo de estudos de Medicina Tradicional Chinesa do Piaget tem vários objetivos, mas o mais relevante é contribuir para a melhoria da qualidade dos cuidados de saúde em Portugal. Ou seja, todos os envolvidos na implementação deste curso, desde a direção do Piaget à direção da Escola, professores e colaboradores dos vários serviços, têm como principal foco garantir que a formação em MTC corresponde aos padrões mais elevados de formação em saúde em Portugal e, consequentemente, permitir retornar à sociedade portuguesa profissionais de saúde capazes de realizar um diagnóstico diferencial, segundo os princípios da Medicina Tradicional Chinesa, tomar decisões terapêuticas ajustadas e aplicar os métodos terapêuticos mais eficazes e com total segurança.
Em simultâneo, estamos todos focados em garantir que os profissionais de Medicina Tradicional Chinesa, formados na Escola Superior de Saúde Jean Piaget de Almada, são capazes de desenvolver social, económica e cientificamente a profissão, seja através do empreendedorismo, do investimento em cursos do 2º e 3º ciclo, do desenvolvimento de investigação relevante ou da participação em equipas multidisciplinares orientadas pela visão de uma medicina integrativa, holística, preventiva e a baixo custo. Cumprindo com todos esses objetivos, não temos a mínima dúvida de que, nas próximas décadas, a Medicina Tradicional Chinesa, através dos seus licenciados, desempenhará um papel decisivo para o fortalecimento e equilíbrio da saúde e do bem-estar da população portuguesa.
O Piaget é uma referência académica na formação de profissionais de saúde em Portugal, com uma oferta formativa que se alarga a vários outros cursos. O que é que a MTC vem acrescentar a essa oferta?
Ana Varela: A Medicina Tradicional Chinesa tem uma visão própria, mas integrativa da saúde, pelo que enriquece a oferta que o Piaget já tem nas outras áreas. Ter um diagnóstico próprio e uma intervenção e modalidades terapêuticas próprias significa também um alargamento a diferentes áreas de saber.
Ao responder a uma procura crescente por cuidados de saúde mais holísticos e naturais, formando profissionais que são capazes de colaborar com outras áreas e de trabalhar em equipas multidisciplinares, isso permite um enriquecimento das áreas de intervenção terapêutica, contribuindo quer para a prevenção da saúde quer para o tratamento da doença.
A abordagem única da MTC, que já deu provas da sua competência ao longo de milhares de anos, prepara também os profissionais para o futuro da medicina.
Enquanto instituição pioneira no lançamento da licenciatura, o Piaget conta com parceiros de referência na área da MTC. Quem são esses parceiros?
Pascoal Amaral: Nos últimos anos, todos aqueles que estiveram envolvidos na criação da Escola Superior de Saúde Jean Piaget de Almada fizeram um esforço grande para criar laços com a comunidade da Medicina Tradicional Chinesa em Portugal e para criar pontes internacionais. Em boa verdade, este processo iniciou-se há vários anos, com a criação de uma sinergia de trabalho entre o Piaget e a Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Lisboa que conta com quase 30 anos de experiência.
Mais recentemente, neste último ano, ou seja, desde o lançamento da 1ª edição da licenciatura em Portugal, celebrámos protocolos com várias associações profissionais portuguesas, nomeadamente com a APPA (Associação Portuguesa dos Profissionais de Acupunctura, Fitoterapia e Medicina Tradicional Chinesa), o Instituto Van Nghi – Associação de Medicina Energética, a Sociedade Portuguesa de Medicina Chinesa e a UMN (União das Medicinas Naturais). Futuramente, pretendemos estender estas ligações a outras associações profissionais.
A nível internacional, estamos numa fase de diálogo com várias entidades de países como Espanha, Brasil e China e também com organizações não governamentais à escala mundial.
Por fim, gostaria de destacar as excelentes relações que mantemos com o Instituto Confúcio, da Universidade de Coimbra, que no último ano tem sido um parceiro muito importante em várias iniciativas. Esta ligação, por exemplo, permitirá que ainda este ano, os nossos estudantes do 1º ano possam realizar um Summer Camp numa universidade na República Popular da China e nós próprios, em Almada, vamos receber 20 estudantes chineses da mesma instituição para realizarem um Summer Camp em MTC, com a duração de 15 dias.
Em termos de empregabilidade, quais as saídas profissionais disponíveis para os diplomados?
Ana Varela: Concluído o curso, os diplomados da Licenciatura em Medicina Tradicional Chinesa do Piaget obterão a cédula profissional de especialista de MTC, o que lhes dará autonomia técnica e deontológica para exercerem a profissão de forma independente e responsável.
No campo das saídas profissionais, que cada vez são mais, destaco, por exemplo, o exercício clínico como especialista de MTC em consultórios próprios ou integrados em clínicas de saúde e centros de bem-estar ou mesmo em ginásios que disponham da oferta de cuidados de saúde. O especialista de MTC pode também colaborar com outras áreas de saúde em espaços multidisciplinares e em contextos de abordagem integrativa, como os hospitais privados – e, quiçá, no futuro, também públicos.
Pode igualmente atuar nas áreas de formação, investigação científica e desenvolvimento de produtos terapêuticos baseados na medicina tradicional, existindo várias hipóteses no campo das plantas medicinais.
Em resumo, com a procura crescente pelas terapêuticas não convencionais e o reconhecimento legal da profissão, a formação sólida oferecida permite que estes profissionais saiam altamente qualificados e preparados para responder às necessidades contemporâneas da saúde em diferentes contextos.
O curso foi lançado no ano letivo de 2024/2025 e os primeiros estudantes vão agora transitar para o 2º ano. Como é que correu o 1º ano e que perspetiva tem sobre os alunos que estão a frequentar o curso?
Pascoal Amaral: Penso que as expectativas iniciais estão a ser claramente superadas. Não nos podemos esquecer que esta é a primeira licenciatura da área no Ensino Superior e não existe nenhum ponto de referência anterior. Mas o facto de as expetativas estarem a ser superadas tem contribuído, de forma determinante, para a motivação dos estudantes e dos professores, razão pela qual o funcionamento desta primeira edição esteja a ser muito positivo.
Quanto aos alunos, temos três perfis diferentes de estudantes. Temos alunos que não têm qualquer conhecimento na área da saúde ou da Medicina Tradicional Chinesa; estudantes que têm formações prévias na área da saúde, mas não conhecimentos de Medicina Tradicional Chinesa e, finalmente, estudantes que já tinham formação prévia em MTC e vieram para o curso para consolidar os seus conhecimentos.
Independentemente do perfil de cada um, estamos muito satisfeitos com este grupo, uma vez que é evidente o empenho e a consistência do trabalho de todos os estudantes, assim como o espírito de grupo positivo que construíram. Todos os professores têm comentado o entusiasmo que sentem por parte dos estudantes durante as aulas, destacando a dedicação ao estudo e demonstrando também alguma surpresa com a maturidade na reflexão pela vontade de aprofundamento dos conteúdos e aquisição de novos conhecimentos na área.
Pessoalmente, diria mesmo que este grupo elevou um pouco a fasquia para os futuros alunos. Considero que este facto apenas poderá trazer mais-valias para o funcionamento futuro do curso, uma vez que nos permitirá calibrar a formação para um nível superior.
Qual o perfil de estudantes que ambicionam ter no próximo ano letivo e que competências é que os alunos irão desenvolver ao longo do curso?
Ana Varela: Ambicionamos estudantes que sejam curiosos perante a vida, que tenham capacidade de se espantar, sensíveis à relação entre o corpo, a mente e o ambiente, estudantes com vontade de compreender o ser humano de forma holística e de fazer a diferença na saúde das pessoas. Ambicionamos jovens com sentido ético, espírito de responsabilidade, com eventual interesse por culturas orientais ou com abertura à interdisciplinaridade entre a ciência moderna e a ciência tradicional.
Ao longo do curso, os estudantes desenvolvem conhecimentos sólidos de Medicina Tradicional Chinesa, incluindo acupuntura, fitoterapia, dietética, massagem Tui Na, exercícios energéticos ou exercícios terapêuticos, de tal modo que sejam capazes de aplicar um diagnóstico e fazer uma avaliação da saúde do ser humano tanto quando está doente como quando não está. Desenvolvem também capacidades clínicas e de comunicação com o paciente, que são fundamentais para todo o cuidado que é personalizado, bem como capacidades de autonomia e pensamento crítico, a par de uma visão integradora da saúde.
Por fim, os estudantes desenvolvem competências de estudo na investigação e na atualização científica, que são essenciais para uma prática baseada na tradição, mas também na evidência e na inovação.
Concluindo, formamos profissionais completos, com uma visão humana, ecológica, que pensam num ambiente sustentável e têm uma grande ligação à natureza, e que estarão preparados para os desafios da saúde contemporânea.
O curso é lecionado no Campus de Almada, o maior do Piaget em Portugal em número de estudantes e onde os alunos de MTC interagem diariamente com colegas que estão a formar-se em áreas muito diferentes. Isso é uma vantagem ou uma desvantagem? E, já agora, quais são as vantagens de estudar em Almada?
Pascoal Amaral: É, sem dúvida, uma vantagem. A oportunidade de estudar num Campus universitário, onde coexistem várias escolas, vários cursos, várias visões e várias formas de ver a educação e a vida traz inúmeras mais-valias para a formação dos estudantes. O mundo em que vivemos é um mundo multicultural onde a coexistência na diversidade não deve ser vista apenas como uma retórica, mas deve ser encarada cada vez mais com responsabilidade e como uma realidade.
Por esse motivo, aprender em Almada, no Campus Universitário do Piaget, onde há alunos provenientes de várias zonas do país – e também de outras regiões do Globo, como os PALOP – é uma oportunidade única para os nossos estudantes aprenderam a viver neste novo mundo global. Sem dúvida que a exposição a diferentes formas de pensar e de estar são hoje essenciais para a formação de competências que lhes permitirão ter uma melhor integração na sociedade e no mercado de trabalho.
Outra vantagem de estudar no Campus de Almada é a sua localização, às portas de Lisboa, e com comboio a parar à porta do Piaget. Apesar de estarmos numa região urbana, quando entramos sentimos que estamos num lugar mais pacífico, tranquilo, inserido no meio da natureza, com espaço verde à volta, ar puro para respirar, pessoas agradáveis e um ambiente muito positivo. É quase como se trouxéssemos o campo para dentro da cidade e da nossa sala de aula. Acreditamos que todos ficarão encantados com o ambiente e motivados para aprender, em Almada, os segredos terapêuticos da Medicina Tradicional Chinesa.
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